Roubaram minha essência! Gritava a mulher desesperada! Chorava e soluçava, sem muito saber o que fazer.
Os transeuntes tentavam acudí-la, acalmá-la. Em vão…Havia perdido tudo, inclusive a si mesma, completamente desconsolada.
Terapeutas, mestres, amigos e familiares começaram a procurar junto a ela. Fizeram boletim de ocorrência, anúncios nas redes sociais, até mesmo o papa foi consultado! Revistaram esquinas, casas, ruínas, vilas, lixeiras, cidades, etc. Reviraram cada buraco mundo afora tentando encontrar a essência da mulher. E nada, nem fumaça…
Essa busca durou uma encarnação inteira.
Contudo aos 80 anos sentada na beira de um rio em estado meditativo, desistiu definitivamente da busca e se entregou à realidade tal como ela era…
De repente seu corpo físico foi se preenchendo, inflando e completando. Como se uma jarra se ocupasse completamente de água, ocupasse todo o espaço e começasse a transbordar, ir além da borda e jorrasse para além do seu corpo físico! Nesse instante todas as suas células foram abarrotadas por essa luz, cobrindo todos os espaços vazios e escuros do seu ser.
Uma paz! Uma inteireza! Uma completude! Estava unida ao TODO, plena, possuía o universo todo dentro de si e o universo possuía ela também. Lágrimas de alegria e plenitude corriam de seus olhos!
Ouvia os sons da natureza e os compreendia. Sentia a pulsação das árvores e da terra. A brisa e o vento acariciavam seu rosto e cabelos. Expandia seu ser e se sentia leve, flutuando, levitando: como se seus pés mal tocassem o chão. A cada inspiração nascia e a cada expiração morria, permitindo que um novo ciclo recomeçasse.
Nessa paz, deitou na beira do rio, expirou e se mesclou as águas e areias dessa margem…