Outubro é o mês da conscientização do aborto, por mais delicado que seja o assunto, é importante reconhecer a dor, o luto e a breve vida que existiu.
Na minha “primeira gestação” sonhava com uma linda japonesinha, comprei roupas e escolhi até o nome: se chamaria Lia Midori. Porém no segundo trimestre descobri que teria um varão, não uma menina. Ao receber a notícia do obstetra não pude conter o choro de frustração e de incompreensão. Sempre fui muito intuitiva, mas desta vez tinha errado e não conseguia disfarçar a frustração de estar grávida de um menino, na época chorava de culpa por “não querer” um garoto. Olhava roupas de meninas e até as comprava para minha sobrinha (minha irmã também estava grávida), só chorava. A partir daí comecei a questionar minha intuição: como pude errar, tinha tanta certeza! Lia foi uma “ilusão” da minha cabeça, acho que enlouqueci!
Com o tempo fui me acostumando com a idéia de ser mãe de menino. E com muita alegria tive o Caio. 3 anos e meio depois viria o Bruno para alegrar ainda mais nossas vidas.
Mas foi durante uma constelação sobre abortos que tive a descoberta mais surpreendente e libertadora de minha vida. Durante os movimentos sistêmicos, na platéia comecei a sentir muita cólica no útero, uma dor lancinante, atordoante e um choro desesperador surgiu das minhas entranhas, não conseguia parar de soluçar.
Só via imagens da Lia Midori: doía o ventre, a alma, o peito. Tive que ir embora do curso. Entrei num luto profundo pela perda de minha amada filha. Tinha caído a ficha de que não era uma invenção da minha cabeça, Lia Midori foi real!
Dormi e sonhei com ela, a japinha mais linda que já vi na vida! Acordei no outro dia feliz e plena, essa descoberta me trouxe novamente a confiança no que eu sinto, no que eu vejo, no que eu pressinto. Melhor que isso me mostrou a minha lucidez e o quão certa eu estava em relação à minha menina. E aquele pedacinho que eu achava que faltava, não estava mais excluído, me tornei plena!
Contei essa história para meu marido, meus filhos, meus pais, irmãs e para meus sogros. Pois Lia Midori existiu, brevemente mas existiu. E isso transformou e mudou a minha vida. Tive 3 lindos filhos e tenho muito orgulho deles.
A passagem de Lia me ensinou a confiar na minha intuição, por mais estranha e improvável que ela seja.
Lia farei muitas coisas boas em sua homenagem. Mamãe te ama demais…
Homenageie e nomeie seus abortos, eles existiram e fazem parte da sua história…Reconhecer essa parte sua que existiu te tornará plena. Fortalecerá sua família e principalmente seus filhos, por saberem a ordem e hierarquia do sistema familiar, pois segredos somente enfraquecem. Caso seus filhos sejam pequenos conte na forma de histórias e contos, eles saberão que é a história deles.
Compartilhe essa história com mulheres que passaram por esses momentos, falar sobre isso alivia, conforta e ameniza a dor, pois honra a história da breve existência desses nossos anjinhos em forma de fetos.